3 de jan. de 2014

Traduzir-se

"Uma parte de mim é todo mundo:
outra parte é ninguém: fundo sem fundo.
 
Uma parte de mim é multidão:
outra parte estranheza e solidão.
 
Uma parte de mim pesa, pondera:
outra parte delira.
 
Uma parte de mim almoça e janta:
outra parte se espanta.
 
Uma parte de mim é permanente:
outra parte se sabe de repente.
 
Uma parte de mim é só vertigem:
outra parte, linguagem.
 
Traduzir uma parte na outra parte
-que é uma questão de vida ou morte-
será arte?"
 
 
 
  
                         (Ferreira Gullar)


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